segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Hollywood, História Passional - (linguagem para televisão)

Esse texto foi criado para participar de uma oficina de dramaturgia e foi baseado em conto homônimo de Vinícius de Moraes, talvez seja a minha estória mais bonita, em relação a imagens.
Espero que vocês gostem e coloquem aqui os seus comentários.
Beijos.

Título: História Passional - Hollywood, Califórnia

Autor: Vinícius de Moraes

Adaptação: Analu Grey

Personagens:

Homem
Padre
Mulher
Guardas
Mãe

Tema: Sideral - Astor Piazolla

Rio de Janeiro, 11 deJulho de 1997



















CENA 1 - (Interna / noite) - Presídio - A câm vem andando, só os pés são focalizados por trás. Enquanto rolam os créditos, duas pernas de calças e sapatos pretos são focalizados. Os dois homens param frente a um gradeado. A câm 2 vai subindo lentamente focalizando os dois homens de frente - um é o guarda, o outro é o padre - um botão é acionado e o gradeado vai abrindo, quando abrir de vez os dois homens voltam a andar.
Corta pra:
Cena 2 - (Interna / noite) - Presídio - A câm 1 está dentro
da cela, os dois homens param diante dela. O guarda fala com o prisioneiro, que é focalizado pela câmera 2 em contra-campo. O homem levanta a cabeça lentamente. A porta da cela é aberta e o padre entra. Sai a música. O guarda sai do quadro. Os dois ficam em silêncio durante um tempo, até que o padre se aproxima sentando na beirada da cama, ficando em frente ao prisioneiro. Trabalhar sempre com campo e contra-campo, após uma geral pela cela detalhando o ambiente, que contém: a cama; a mesa; a cadeira onde está o prisioneiro; e ao fundo entre os dois tem uma pia.
Padre
Você está preparado para sua última confissão, meu filho?
Homem
Confissão?
Padre
É, você está arrependido do seu crime?
Homem
Sabe padre, daqui a duas horas eu vou morrer (pausa) vou morrer num país que não é o meu, e não pela mão de Deus, mas sim pela mão de um carrasco que não me conhece, que sequer sabe, na verdade, se sou culpado ou inocente... ele simplesmente vai abrir a câmara de gás... esse é o trabalho dele (pausa) o senhor sabe qual foi o crime que me condenou à morte? foi o amor padre, um amor tão louco e intenso que me fez sentir um Deus na essência da palavra... (ele levanta indo até a pia onde há um espelho) o amor me enlouqueceu! (a câmera o focaliza pelo espelho, ao fundo o padre que também está de pé)
Padre
Meu filho, o amor é redentor, jamais será objeto de uma condenação.
Homem
Então padre, eu caí na mais linda e maravilhosa tentação (pausa) ela era linda...
Corta em fusão pra:
Cena 3 - (Externa / dia) - Floricultura - Toda a cena será em preto e branco apenas as rosas vermelhas e alguns detalhes a critério da direção serão em cores. O homem escolhe as rosas e voz fica em off “contando” a cena.
Homem
Eu a havia visto apenas uma vez, num single-bar onde fui com um amigo, não consegui parar de pensar... aqueles lábios, tão vermelhos e macios como as pétalas da dúzia de rosas que lhe enviei...
Quando ele assina o cartão,
Corta em fusão pra:
Cena 4 - (Externa / dia) - Frente de um prédio - O homem está parado junto ao conversível e olha o relógio a cada segundo. A mesma indicação da cena anterior, tudo em preto e branco apenas os lábios (vermelhos) os cabelos (louros) e alguns detalhes coloridos, talvez o carro, o ritmo da cena não é normal, talvez como se fosse em fotogramas. A loura mulher, mais jovem que o homem, aparece na portaria do edifício. Focalizar os dois em campo e contra-campo.
Homem
Eu aguardei ansioso a sua chegada, as horas pareciam eternas a cada olhada, eu sintia o calor aumentar apesar da noite se aproximar... quando a vi, em meu peito, o sol era tão resplandecente quanto o louro reflexo de seus cabelos... a fiz entrar em meu carro e como se marcasse os batimentos de meu coração o velocímetro disparou...
Corta pra:
Cena 5 - (Interna / noite) - Restaurante - É um restaurante chinês - dar uma panorâmica por volta da mesa, restos do serviço na mesa. Ele pega na coxa dela que sorri e o beija.
Homem
O batom deixou-me uma marca indelével, ela me deixa louco...
Os beijos são ardentes e ele baixa a alça do vestido segurando-lhe os seios.
Corta lento pra:
Cena 6 - (Externa / noite) - Porta do restaurante - Ele a ajuda com o casaco de pele e fica a observando caminhar, a câmera funciona como o olhar dele vindo de baixo pra cima.
Homem
As pernas dela estão cobertas por meias que tem um som próprio (efeito sonoro de raspagem de meias de nylon)... o que ela significava padre, uma criatura de Deus ou o próprio demônio?
Padre
Eu não sei, talvez ela seja apenas uma mulher.
Homem
É... talvez sim.
Corta pra:
Cena 7 (Externa / noite) - Rua frente do edifício - Os dois estão no carro, a capota fechada, a câmera 1 deve estar na frente do carro. Entra a música. O homem tenta beija-la.
Homem
Ela bebeu uísques, pra mais de 20, tornando-se mais doce... pude sentir enquanto dançamos, suas pernas entre as minhas... pousei minhas mãos em seus quadris... no carro, nos grudamos e quando lhe perguntei se queria me disse não, saiu do carro, me acenou... e me deixou com a “bateria gasta”...
Corta em fusão pra:
Cena 8 - (Externa / noite) - Rua frente do prédio - O Carro e o homem estão na mesma posição, só muda a roupa, ele fuma.
Homem
Os dias passavam assim, eu mal conseguia trabalhar e logo depois, no fim do expediente, eu corria para seus “braços”... ela vinha pra mim, e ao vê-la, eu a chamava de “galinha” e tudo mais (o andar dela é blase, ao contrário da excitação dele - a direção pode optar por dividir a tela mostrando os dois ao mesmo tempo, a cena será também como as outras em tempo diferente do real, mantendo-se também a ausência do colorido preservando-se os detalhes) ela me dá um suave e displicente beijo e me chama para jantar, aceito correndo e a sigo apaixonado.
Corta pra:
Cena 9 - (Interna / noite) - Casa dela - Sai a música. A edição deve ser como um clip, na exata velocidade do que é descrito.
Homem
O apartamento era simples e parecia menor, tal era a quantidade de móveis sem qualquer ligação decorativa... (pausa) a mãe dela já sabia que eu era casado e ameaçava começar um interrogatório, mas ela mandou a velha calar a boca... (pausa) abrimos todas as latas de comida e bebemos vinho barato...
Corta lento pra:
Cena 10 - (Externa / noite) - Colina - A câmera está na lua e vem descendo suavemente até enquadrar o carro em primeiro plano com a lua atrás. Sobe a música.

Homem
Nos abraçamos, nos beijamos, nos agarramos e novamente, ela me diz não... (a câmera 1 focaliza ele de lado) acendo um cigarro e só então vejo, que meu dedo sangra, acho que me machuquei na liga de suas meias...
A câmera vai afastando.
Corta lento pra:
Cena 11 - (Interna / noite) - Boate - Eles dançam e a câmera enquadra os dois em plano americano.
Homem
Eu faço de tudo para tê-la e não consigo esquecer da sua figura num suéter, sapatos mocassim, meias curtas vermelhas... parece uma colegial dançando, me fazendo parecer mais velho do que realmente sou... (ela o puxa e sussurra algo)
Sai a música.
Corta pra:
Cena 12 - (Interna / noite) - Boliche - Ela se afasta do homem e pega a bola, flertando com outro homem na pista ao lado.

Homem
Ela me pergunta se me importo dela paquerar, apesar de estar quase louco de ciúmes digo que não me importo... (ela faz um strike e vai até o homem da pista ao lado entregando um papel) peço para ir embora, ela aceita e se pendura em meu pescoço... não resisto, passo a mão em suas costas por dentro do suéter... (eles param no bar do boliche) ela toma uma coca-cola quase que de um gole só, aproveito e pergunto se não quer ir ao meu apartamento... (ela o beija apaixonadamente negando com a cabeça) dou um soco no balcão chamando a atenção de todos (passa a mão pelos cabelos em total descontrole, enquanto ela sorri)
Corta pra:
Cena 13 - (Externa / noite) - Carro - A câmera deve estar fechada nele, abre cortando direto para a câmera 2, close nela que sorri, a câmera abre pegando também o cartão que ela lê.
Homem
Entrego o seu perfume preferido, CHANNEL Nº5, mas também um bilhete... eu lhe pagaria um jantar de 20 dólares e se mesmo assim ela não me quisesse, eu não me responsabilizaria...
A câmera abre, os dois saltam do carro, ela está com saltos altíssimos e um vestido muito cavado.

Homem
Eu podia adivinhar-lhe todas as curvas do corpo, meu olhar atravessava o casaco de chinchila e o vestido... me sinto ao mesmo tempo rico e pobre homem...seus saltos de vinte centímetros, pareciam pisar em mim, e ela vai...
Corta pra:
Cena 14 - (Interna / noite) - Restaurante - Ela entra na frente dele. A câmera deve dar a exata sensação do domínio dela, então, ela aparecerá sempre maior que todos. O garçom se aproxima e se dirige a ela - cortes rápidos e a mesa se apresenta com caviar e champanhe.
Homem
Eu acompanho todos os seus movimentos, estou encantado! a cada momento descubro algo que me fascina... meus olhos parecem presos ao decote de seu vestido... então ela quebra o encanto do silêncio arrotando de leve... por um momento volta a ser uma pessoa comum, não mais a divindade, também não sou um menino, consigo novamente como um homem, é então que o garçom me trás a conta que ela pediu.
Ele guarda a carteira dentro do bolso. Big close no gesto.
Corta contínuo pra:
Cena 15 - (Externa / noite) - Alto da colina - A câmera abre o big close, dessa vez ele tira uma caixa com um anel.

Homem
Proponho a ela o casamento, recebo uma negativa, diz-me que só aceita pensar após meu divórcio... (a câmera fica nos dois, focalizando em plano americano em campo e contra-campo, ele esmurra o volante, é uma discussão) perco a cabeça... já não sei quem sou, não reconheço em mim o homem de sempre... parto para a atitude e ela me destronca o dedo com um golpe de Jiu-Jitsu. (a câmera abre pegando os dois de frente, alguns faróis passam esporadicamente e o som da música fica em B.G., ela tira da bolsa uma caixa de chiclete, a atitude é fria, quase premeditada) ela acaba comigo, diz-se ofendida, reclama de como a trato e do que penso a seu respeito (a câmera focaliza ele que nervoso procura os cigarros, ao achar oferece um a ela, corta pra ela que pega o cigarro e acende com fósforo) estou boquiaberto com sua perícia com fósforos, é então que ela me pede que a leve para jantar uma salada, quase digo sim... (a câmera fecha em close nele. Sobe a música - atenção para a mudança nas feições dele que passa do prazer da desculpa para a raiva).
Corta rápido pra:
Cena 16 - (Externa / dia ) - Um campo - A câmera abre com rapidez - usar recursos gráficos, ele fará parte da grama e ela será uma cabra. Ele “viaja” se vendo pastado por ela.

Homem
Vejo-a então a beijar meu pescoço, descer sua boca para meu peito... vejo-me como um campo e ela como uma cabra a pastar deleitosa minha carne...
Corta em fusão pra:
Cena 17 - (Externa / noite) - Colina - Ela o está beijando - Talvez seja bom que pudesse dar a entender estar ela praticando sexo oral com ele - então ele levanta a cabeça dela.
Homem
Não sei o que foi mais forte naquele momento padre, se a sensação de ser um pasto, onde ela saciava sua fome, ou a humilhação de ser dominado... o que o senhor acha?
Corta pra:
Cena 18 - (Interna / noite) - Presídio - Um guarda se aproxima da grade, câmera 1 com ele.
Guarda
Só mais 10 minutos padre.
Câmera 1 dá a volta em si mesma em plano americano, focalizando os dois sentados frente a frente. O padre mantém a cabeça baixa, o homem olha para a câmera.
Homem
O senhor não respondeu, está chocado?
Padre
Não, apenas estou pensando no que você me perguntou.

Homem
Foi bobagem, o senhor não pode saber o que é ser controlado pelo desejo... (ele levanta e vai para a grade) por que mais 10 minutos? o que os impede de acabar logo com essa agonia? eu a matei! a matei e a mataria novamente com a força de meu desejo... ela brincou comigo, tripudiou sobre meus sentimentos... por desejá-la fui capaz de esquecer meus próprios filhos...
Padre
(Vindo pra trás dele - referencial da câmera muda voltando a focalizar os dois) Por essas loucuras, por esse louco desejo você foi capaz de matá-la, então, de que adiantou? não se arrepende?
Homem
Arrepender? o senhor não sabe nada.
Corta pra:
Cena 19 - (Externa / noite) - Colina - A câmera abre no close dele.
Homem
Eu estava possesso padre... (a música fica em B.G. mais alto um pouco conforme for acontecendo a cena que ele descreve) eu lhe dei um murro, em seguida, com ela desacordada deixei aflorar meus instintos e lhe mordi, mordi como um animal raivoso até sentir seu sangue em minha boca... então suguei e lambi como a um néctar... para só então, a possuir como desejei todo o tempo, ela não podia mais negar estava morta...
Corta rápido pra:
Cena 20 - (Interna / noite) - Presídio - A câmera abre em plano americano. O padre está debruçado sobre a pia - efeito sonoro de alguém vomitando - o homem está encostado na parede - efeito sonoro de água corrente (torneira) e logo depois, torneira fechando - o homem passa ao padre 3 toalhas de papel e continua a falar.
Homem
Sente-se melhor? (o padre afirma que sim) quando o êxtase do prazer passou e eu a vi, morta, chorei sobre seu corpo... (os dois novamente sentam, dessa vez lado a lado, a câmera pega os dois de perfil) eu cavei e a enterrei numa vala comum, ali, junto a estrada onde estávamos... para justificar o sangue em minhas roupas e no carro, rodei pela estrada até encontrar uma curva e uma árvore, então acelerei em direção à ela... fui levado para um hospital em estado grave... os médicos não achavam que eu fosse sobreviver... minha mulher ficou ao meu lado, meus filhos iam me visitar... e eu só queria estar com ela...
Corta pra:
Cena 21 - (Externa / dia ) - Colina - Aparato policial. A câmera vai se aproximando lentamente, um corpo é envolto num saco preto e retirado do chão, antes de ser encaminhado à ambulância, um policial se aproxima e verifica as mãos, primeiro a esquerda depois a direita. Big close nas mãos do policial, estão de luvas. A câmera abre, e o policial com uma lupa acha um fio de cabelo na palma da mão do cadáver. Fechar em big close do fio esticado.
Corta em fusão pra:
Cena 22 - (Interna / noite) - Presídio - Abre no fio esticado, passando em seguida para o plano americano.
Homem
Foi isso aqui que me condenou padre, um fio de cabelo! um especialista, um perito, encontrou um fio do meu cabelo na palma da mão dela... me fez perder minha família e agora minha vida... (dois guardas entram e o homem é colocado de pé e algemado. O padre também levanta e começa a rezar).
Guarda 1
É hora de ir.
Homem
O senhor acha que eu tenho perdão padre?
Padre
Deus tem uma infinita bondade, e se você se arrepender do fundo do seu coração, ele o receberá na glória do seu reino...
Homem
E se eu não me arrepender padre?
Padre
A morte não lhe assusta?
Homem
Assusta mas não me faz esquecer, ao contrário, eu posso encontrá-la e apesar de não haver mais o prazer do seu sangue em minha boca, poderei sentir seu gosto no inferno... Deus me absolve mesmo assim?
Padre
Não sei, mas eu vou rezar pela sua alma...
Homem
(Sendo levado pelos guardas - a câmera fica no referencial do padre) Isso padre, reze, que eu vou tentar rezar pela sua alma também! porque eu amei! desejei! e o senhor padre? e o senhor?!
O som da voz dele vai sumindo, a imagem vai em fade-out ficando apenas o som de passos, em seguida sobe a voz do padre dando a Extrema-Unção, e o som da câmara de gás.
Termina com a tela completamente preta.

O primeiro blog a gente nunca esquece

Olá, eu acho que finalmente consegui fazer um blog... dizem que é parecido com um diário, mas tem traços de jornal... Desisti tentar entender o que é isso, mas passei a sentir falta de ter um lugar onde pudesse deixar meus textos postados para que outros leiam, por isso estou aqui.
Já faz tempo que eu tentava fazer uma coisa dessas, mas nunca dava certo, espero que dessa vez dê tudo certinho e eu possa deixar aqui, um registro para que meus amigos ou, qualquer pessoa entre e leia à vontade, deixando seu comentário (se quiser).
é isso... agora tenho que estudar como faço pra colocar meus textos aqui, mas se alguém entrar por aqui e quiser me ajudar, juro que não vou ficar triste (risos).
Um beijo a todos que entrarem por aqui.
Ana Lúcia Ricon